Lá estava eu, sentado na porta de casa, observando
as pessoas a caminhar. Eu sempre fazia isso. As pessoas iam ao mercado, à
feira, ao motel, era interessante de ver. Nunca tive vontade de caminhar junto
com eles, me satisfazia em apenas observar. Eu via as pessoas comprando o pão,
maridos traindo suas esposas, as esposas traindo seus maridos e de vez em
quando acontecia até um assassinato. De repente algo diferente aconteceu.
Alguém sentou na casa em frente e começou a observar também. Nunca ninguém
tinha observado a rua como eu observava, fiquei intrigado, mas continuei a
observar. Dia após dia ele ficava frente a frente a minha casa observando.
Aquilo começou a me incomodar, de certa forma. Depois de um tempo percebi que
os olhares dele não eram para as pessoas que passavam e sim para mim. Por que
ele estaria olhando para mim? Haviam tantas outras coisas para observar.
Comecei a observá-lo também. Ele riu. Instintivamente retribui. Por que eu
sorri para o estranho? Entrei. Passei uns dias até sair de casa novamente. Tive
medo de ele estar lá esperando para me observar. Quando saí ele não estava na
porta, então sentei. Poucos instantes depois senti alguém perto de mim quando
virei era ele, o meu observador. Quis correr, mas minhas pernas não respondiam
aos meus comandos. Ele disse algo que não entendi, estava muito desnorteado com
a situação, apenas balancei a cabeça dizendo que sim. A única coisa que lembro
era do seu rosto se aproximando do meu. Após isso só tenho flashes do que
aconteceu. Lembro que fui arrastado pra o outro lado da rua e depois pra dentro
de uma casa desconhecida. Acho que era a casa dele. Depois de um tempo saí
ainda desnorteado com tudo o que acontecera. Ele parecia feliz, estava
sorrindo. Fui pra minha casa. No dia seguinte ele estava lá de novo, observando.
Fiquei desnorteado outras vezes, mas aos poucos me acostumei. Hoje não sento
mais para observar. Agora eu ando pela rua para ir comprar o pão, ir ao mercado
e de vez em quando ao motel. Mudei de posição, não sou mais o observador. Sou o
observado.
Blog do Alex
Aqui você encontrará pensamentos das mais diversas pessoas e sobre os mais diversos assuntos.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Sonhando acordado
Sabe
aqueles sonhos em que a gente acorda suspirando? Pois é, mês passado tive um
sonho desses e nele você aparecia. Não consigo lembrar mais nada além disso.
Não me lembro das suas roupas ou onde estávamos, minha mente se concentrou em
seu rosto. Mas quem é você? Não me lembro de tê-lo encontrado antes. Já ouvi
falar em amor a primeira vista, mas o que seria esse se nunca o vi
pessoalmente? Amor imaginário? Será que minha mente te idealizou? Se foi isso
ela deve me odiar porque agora não paro de pensar em ti. Ando na rua procurando
rostos parecidos com o seu, mas não há alguém no mundo que seja tão perfeito
pra mim. Não que você seja a pessoa mais linda do mundo, já vi muito mais
bonitos pelas ruas do bairro, mas só você me fascinou tanto. Agora eu sigo
nessa busca incessante, sem saber se ao menos existe ou onde mora. Sinto que um
dia te encontrarei e espero que quando acontecer você sinta o mesmo que sinto
porque mesmo sem te conhecer já te amo.
Adeus meu amor
Aqui
estou eu novamente, sentado no canto escuro da sala, chorando por algo que nem
chegou a ser meu: você. Eu sempre estive te observando, seguindo os seus
passos. Quando nos conhecemos, na terceira série, você era o garoto popular,
aquele que todas as garotas ficavam dando bola e os garotos admiravam, já eu
era apenas mais um nerd na sala como tantos outros. Na quarta série nós nos
separamos, ficamos em turmas diferentes, mas eu sempre achava um motivo pra
poder ir à sua sala e vê-lo mesmo que por um instante. Mais um ano se passou e
continuamos em salas diferentes, mas eu já tinha me acostumado à rotina de ir à
sua sala e agora que estávamos na quinta série era mais fácil, afinal tínhamos
vários professores diferentes e podia ir falar com todos eles durante os
intervalos entre as aulas. Na sexta série voltamos a estudar juntos, foi como
se o vento estivesse soprando a meu favor, finalmente estaríamos juntos, mesmo
que apenas nas aulas. Na sétima série foi o pior ano para mim, você foi morar
em outro bairro e mudou de escola, quase que desapareço de tanto que emagreci,
meus pais não entendiam o que estava acontecendo e eu nunca contava. Durante a
oitava série e o ensino médio estudamos separados, mas eu nunca parei de pensar
em você, nem mesmo por um dia. Após terminar o segundo grau resolvi estudar em
outra cidade para tentar te esquecer, mas parece que o destino nos queria
juntos. Quando olhei a lista de aprovados seu nome estava nela, quase infarto
de tanta alegria, iríamos estudar juntos depois de tantos anos. Logo no
primeiro dia notei que sentou na frente, nunca sentava na frente, era popular,
sempre sentava nas carteiras do fundo. Fiquei quieto e sentei-me do outro lado
da sala. No dia seguinte quando cheguei notei que não havia chegado ainda e
coloquei minhas coisas no mesmo lugar do dia anterior antes de ir ao banheiro,
quando voltei vi você sentado na cadeira ao lado. Quase grito de alegria.
Depois de um mês sentando perto um do outro você veio falar comigo, não tinha
ido muito bem na primeira prova e queria ajuda para estudar, me disse que só eu
poderia ajuda-lo, fiquei estático. Realmente tinha me saído muito bem na prova,
mas na sala haviam outros que sabiam mais que eu. Marcamos de estudar na sua
casa já que eu morava em uma república. Quando começamos a estudar percebi que
sabia mais do que dizia saber, mas continuei te ajudando. Ao fim do primeiro
semestre um colega de turma me entregou uma carta. Era sua. Nela você dizia que
sempre me observou, mas sempre achou que eu nunca iria querer ficar com você,
afinal, eu era muito inteligente e ele não parecia ser muito, mas mesmo assim
se esforçou para melhorar. Disse que achava estranho eu ir tanto na sua sala,
mas achava que eu estava de olho na Carol que tinha estudado com a gente. Você
achou que por você ser homem eu nunca repararia em você. O que você não sabe é
que eu sempre te amei e achei que você quem não olharia para mim. Fui ao seu
encontro para poder finalmente me declarar, mas cheguei tarde. Quando te
encontrei estava muito ferido e havia uma mensagem num papel ao seu lado.
Alguém corria na direção oposta à qual eu chegava, era o garoto que me entregou
a carta. Na carta dizia que os gays têm que morrer. Quase morro ao te ver
naquele estado. Chamei uma ambulância, mas acho que era tarde demais, você
morreu sem ao menos saber que o amava. Agora estou aqui, no canto escuro do meu
quarto me lamentando por todos esses anos perdidos. Foram nove anos para poder
me declarar, tantas oportunidades perdidas. Infelizmente não pude dizer que te
amava. Não pude viver ao seu lado.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Em busca de um futuro
Todos
os dias da minha vida eram um martírio, principalmente depois do dia que fui
expulsa de casa por querer lutar por meu sonho e agora tenho que lutar pra
sobreviver. Não é uma vida fácil, muito menos boa.
Meus pais nunca me entenderam quando dizia que não era igual aos outros. Morar
de aluguel é terrível, mas infelizmente é tudo que posso ter atualmente. Ser
garota de programa é tudo o que restou pra mim. Quando fui expulsa era muito
nova ainda e não sabia fazer nada. Tinha apenas 14 anos, mas meus pais disseram
não aguentar mais me ver daquela forma. Sempre esperei por um cavalo branco e
um príncipe em sua garupa. Mas nas ruas as quais eu pertencia, meu príncipe só
poderia aparecer em um carro branco oferecendo-me duas notas de R$20 para sair
com ele. Desde então eu tentei juntar dinheiro para o meu sonho, mesmo que
tivesse que levar essa vida odiosa. Ser garota de programa não é coisa fácil,
principalmente se você nasce homem. Sim, eu nasci no corpo errado, sou uma
mulher presa num corpo masculino, mas um dia serei uma mulher completa e
encontrarei meu príncipe, mesmo que ele não tenha um cavalo branco. Alguns dos
caras que eu encontrei nessa vida foram legais, outros nem tanto, mas todos
contribuíram pra eu aprender um pouco mais sobre o ser humano. Já tive clientes
que me trataram como uma verdadeira mulher, com muito carinho e prazer. Também
tive alguns que me espancaram ao perceber que não era uma mulher completa, que
tinha algo que eles não esperavam. Aprendi que há pessoas que não ligam se você
é diferente, mas também tem aqueles que irão te odiar pelo mesmo motivo. Hoje
estou um pouco mais feliz, consegui fazer minha cirurgia e posso ser uma mulher
completa, mas infelizmente não sai da vida de garota de programa, mas isso um
dia passará. Estou estudando, finalmente serei alguém na vida. Poderei ser
aceita. Serei completa.
Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.
terça-feira, 26 de maio de 2015
Conhecendo
Eu sempre odiei gays, sempre achei muito nojento o
fato de eles ficarem com outros caras. Como eles têm coragem de dar o cu
daquela forma? É tão humilhante, tão degradante. Sempre que via dois caras se
beijando no meio da rua tinha vontade de socar a cara deles, fazê-los virar
homens. Já bati em alguns deles, odiava quando vinham dar em cima de mim. Ver
aqueles seres abomináveis com roupa curta se insinuando para mim era
enlouquecedor. Certo dia encontrei-me com um amigo que não via há anos,
perguntei como ele estava, se havia casado, se tinha filhos. Ele conversou
comigo como se nunca tivéssemos nos afastado, disse que tinha casado, mas não
tinha filhos, não podia tê-los, mas que queria adotar. Fiquei super mal ao
saber que ele não poderia ser pai de forma natural, resolvi perguntar o porquê,
se a mulher dele ou se ele era estéreo. Ele me disse que não era. Disse a ele
que era uma pena que a mulher dele era então e ele me disse que não era casado
com uma mulher, ele não poderia ser pai de forma natural por que era casado com
outro homem. Eu quase caí da cadeira. Como ele podia ser gay? Ele era forte,
alto, o tipo de cara que conquistaria qualquer mulher, não falava fino e não
tinha frescuras. Perguntei se era alguma piada ou pegadinha. Ele me disse que
não, que realmente é gay. Eu quis espanca-lo naquele mesmo momento, mas não
poderia, tinha muita gente por perto, estávamos em um pub lotado. Ele percebeu
minha impaciência ao saber. Eu queria ir embora, ele me segurou pelo braço e
pediu pra ficar um pouco mais. Eu não queria ficar perto de um gay, achava que
ele queria dar em cima de mim, afinal, pra que ele tinha me chamado lá depois
de tantos anos? Além de que eu sempre pensei que todo gay fosse promíscuo, ele
só queria transar comigo. Eu disse que não curtia aquilo e que iria embora. Ele
insistiu, disse que não queria nada comigo, afinal era casado. Mesmo com receio
resolvi ficar, pela nossa longa amizade. Ele pediu desculpas se disse aquilo de
forma tão direta e perguntou por que o susto. Eu lhe expliquei. Ele me disse
que nem todo gay precisa falar fino ou se vestir de mulher, isso não o torna
mais ou menos gay. Disse que assim como homens que dão em cima de toda mulher
que passa existem gays assim também, mas existem aqueles que, assim como ele,
não aparentam ser gays, pois são diferentes dos estereótipos impostos pela
sociedade. Ele me disse que seu namorado tinha um pouco desses estereótipos,
mas que isso nunca o incomodou, que isso até o atraia. Eu fiquei abismado com
tudo que ouvi, falei pra ele minhas opiniões e quando achei que ia levar um
soco na cara ele apenas me disse que é normal, que eu não tinha conhecido gays
legais. Gay não tem só amigo gay. A amizade se constrói com respeito, cabe aos
dois lados dizer seus limites. Relaxei um pouco e me desculpei. Ele me disse
que se algum cara der em cima de mim novamente é só dizer que não curte, se
insistir basta empurrar, não precisa se estressar, ainda me disse que não será
fácil mudar essa forma de pensar, mas que eu deveria andar mais com ele pra ver
que o mundo gay não é exatamente o que parece ser. Hoje em dia eu estou mais
relaxado, não tenho mais o velho preconceito. Conheci o namorado dele, confesso
que no início fiquei um pouco receoso, mas percebi que os dois se amavam de
verdade, que não existia chance de ele dar em cima de mim, agora somos bons
amigos, saímos pra beber juntos, durmo na casa deles, eles dormem na minha e
inclusive me arranjaram uma ótima namorada. Percebo que não existe lógica em
ter preconceito, antes de ser gay ou qualquer outra coisa são seres humanos,
eles sofrem, se divertem, cometem erros e amam. Todos devemos respeitar os
outros se esperamos ser respeitados.
Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior
Bueno.
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