sexta-feira, 5 de junho de 2015

Sonhando acordado





Sabe aqueles sonhos em que a gente acorda suspirando? Pois é, mês passado tive um sonho desses e nele você aparecia. Não consigo lembrar mais nada além disso. Não me lembro das suas roupas ou onde estávamos, minha mente se concentrou em seu rosto. Mas quem é você? Não me lembro de tê-lo encontrado antes. Já ouvi falar em amor a primeira vista, mas o que seria esse se nunca o vi pessoalmente? Amor imaginário? Será que minha mente te idealizou? Se foi isso ela deve me odiar porque agora não paro de pensar em ti. Ando na rua procurando rostos parecidos com o seu, mas não há alguém no mundo que seja tão perfeito pra mim. Não que você seja a pessoa mais linda do mundo, já vi muito mais bonitos pelas ruas do bairro, mas só você me fascinou tanto. Agora eu sigo nessa busca incessante, sem saber se ao menos existe ou onde mora. Sinto que um dia te encontrarei e espero que quando acontecer você sinta o mesmo que sinto porque mesmo sem te conhecer já te amo.

Adeus meu amor





Aqui estou eu novamente, sentado no canto escuro da sala, chorando por algo que nem chegou a ser meu: você. Eu sempre estive te observando, seguindo os seus passos. Quando nos conhecemos, na terceira série, você era o garoto popular, aquele que todas as garotas ficavam dando bola e os garotos admiravam, já eu era apenas mais um nerd na sala como tantos outros. Na quarta série nós nos separamos, ficamos em turmas diferentes, mas eu sempre achava um motivo pra poder ir à sua sala e vê-lo mesmo que por um instante. Mais um ano se passou e continuamos em salas diferentes, mas eu já tinha me acostumado à rotina de ir à sua sala e agora que estávamos na quinta série era mais fácil, afinal tínhamos vários professores diferentes e podia ir falar com todos eles durante os intervalos entre as aulas. Na sexta série voltamos a estudar juntos, foi como se o vento estivesse soprando a meu favor, finalmente estaríamos juntos, mesmo que apenas nas aulas. Na sétima série foi o pior ano para mim, você foi morar em outro bairro e mudou de escola, quase que desapareço de tanto que emagreci, meus pais não entendiam o que estava acontecendo e eu nunca contava. Durante a oitava série e o ensino médio estudamos separados, mas eu nunca parei de pensar em você, nem mesmo por um dia. Após terminar o segundo grau resolvi estudar em outra cidade para tentar te esquecer, mas parece que o destino nos queria juntos. Quando olhei a lista de aprovados seu nome estava nela, quase infarto de tanta alegria, iríamos estudar juntos depois de tantos anos. Logo no primeiro dia notei que sentou na frente, nunca sentava na frente, era popular, sempre sentava nas carteiras do fundo. Fiquei quieto e sentei-me do outro lado da sala. No dia seguinte quando cheguei notei que não havia chegado ainda e coloquei minhas coisas no mesmo lugar do dia anterior antes de ir ao banheiro, quando voltei vi você sentado na cadeira ao lado. Quase grito de alegria. Depois de um mês sentando perto um do outro você veio falar comigo, não tinha ido muito bem na primeira prova e queria ajuda para estudar, me disse que só eu poderia ajuda-lo, fiquei estático. Realmente tinha me saído muito bem na prova, mas na sala haviam outros que sabiam mais que eu. Marcamos de estudar na sua casa já que eu morava em uma república. Quando começamos a estudar percebi que sabia mais do que dizia saber, mas continuei te ajudando. Ao fim do primeiro semestre um colega de turma me entregou uma carta. Era sua. Nela você dizia que sempre me observou, mas sempre achou que eu nunca iria querer ficar com você, afinal, eu era muito inteligente e ele não parecia ser muito, mas mesmo assim se esforçou para melhorar. Disse que achava estranho eu ir tanto na sua sala, mas achava que eu estava de olho na Carol que tinha estudado com a gente. Você achou que por você ser homem eu nunca repararia em você. O que você não sabe é que eu sempre te amei e achei que você quem não olharia para mim. Fui ao seu encontro para poder finalmente me declarar, mas cheguei tarde. Quando te encontrei estava muito ferido e havia uma mensagem num papel ao seu lado. Alguém corria na direção oposta à qual eu chegava, era o garoto que me entregou a carta. Na carta dizia que os gays têm que morrer. Quase morro ao te ver naquele estado. Chamei uma ambulância, mas acho que era tarde demais, você morreu sem ao menos saber que o amava. Agora estou aqui, no canto escuro do meu quarto me lamentando por todos esses anos perdidos. Foram nove anos para poder me declarar, tantas oportunidades perdidas. Infelizmente não pude dizer que te amava. Não pude viver ao seu lado.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Em busca de um futuro






Todos os dias da minha vida eram um martírio, principalmente depois do dia que fui expulsa de casa por querer lutar por meu sonho e agora tenho que lutar pra sobreviver. Não é uma vida fácil, muito menos boa. Meus pais nunca me entenderam quando dizia que não era igual aos outros. Morar de aluguel é terrível, mas infelizmente é tudo que posso ter atualmente. Ser garota de programa é tudo o que restou pra mim. Quando fui expulsa era muito nova ainda e não sabia fazer nada. Tinha apenas 14 anos, mas meus pais disseram não aguentar mais me ver daquela forma. Sempre esperei por um cavalo branco e um príncipe em sua garupa. Mas nas ruas as quais eu pertencia, meu príncipe só poderia aparecer em um carro branco oferecendo-me duas notas de R$20 para sair com ele. Desde então eu tentei juntar dinheiro para o meu sonho, mesmo que tivesse que levar essa vida odiosa. Ser garota de programa não é coisa fácil, principalmente se você nasce homem. Sim, eu nasci no corpo errado, sou uma mulher presa num corpo masculino, mas um dia serei uma mulher completa e encontrarei meu príncipe, mesmo que ele não tenha um cavalo branco. Alguns dos caras que eu encontrei nessa vida foram legais, outros nem tanto, mas todos contribuíram pra eu aprender um pouco mais sobre o ser humano. Já tive clientes que me trataram como uma verdadeira mulher, com muito carinho e prazer. Também tive alguns que me espancaram ao perceber que não era uma mulher completa, que tinha algo que eles não esperavam. Aprendi que há pessoas que não ligam se você é diferente, mas também tem aqueles que irão te odiar pelo mesmo motivo. Hoje estou um pouco mais feliz, consegui fazer minha cirurgia e posso ser uma mulher completa, mas infelizmente não sai da vida de garota de programa, mas isso um dia passará. Estou estudando, finalmente serei alguém na vida. Poderei ser aceita. Serei completa.


Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Conhecendo








Eu sempre odiei gays, sempre achei muito nojento o fato de eles ficarem com outros caras. Como eles têm coragem de dar o cu daquela forma? É tão humilhante, tão degradante. Sempre que via dois caras se beijando no meio da rua tinha vontade de socar a cara deles, fazê-los virar homens. Já bati em alguns deles, odiava quando vinham dar em cima de mim. Ver aqueles seres abomináveis com roupa curta se insinuando para mim era enlouquecedor. Certo dia encontrei-me com um amigo que não via há anos, perguntei como ele estava, se havia casado, se tinha filhos. Ele conversou comigo como se nunca tivéssemos nos afastado, disse que tinha casado, mas não tinha filhos, não podia tê-los, mas que queria adotar. Fiquei super mal ao saber que ele não poderia ser pai de forma natural, resolvi perguntar o porquê, se a mulher dele ou se ele era estéreo. Ele me disse que não era. Disse a ele que era uma pena que a mulher dele era então e ele me disse que não era casado com uma mulher, ele não poderia ser pai de forma natural por que era casado com outro homem. Eu quase caí da cadeira. Como ele podia ser gay? Ele era forte, alto, o tipo de cara que conquistaria qualquer mulher, não falava fino e não tinha frescuras. Perguntei se era alguma piada ou pegadinha. Ele me disse que não, que realmente é gay. Eu quis espanca-lo naquele mesmo momento, mas não poderia, tinha muita gente por perto, estávamos em um pub lotado. Ele percebeu minha impaciência ao saber. Eu queria ir embora, ele me segurou pelo braço e pediu pra ficar um pouco mais. Eu não queria ficar perto de um gay, achava que ele queria dar em cima de mim, afinal, pra que ele tinha me chamado lá depois de tantos anos? Além de que eu sempre pensei que todo gay fosse promíscuo, ele só queria transar comigo. Eu disse que não curtia aquilo e que iria embora. Ele insistiu, disse que não queria nada comigo, afinal era casado. Mesmo com receio resolvi ficar, pela nossa longa amizade. Ele pediu desculpas se disse aquilo de forma tão direta e perguntou por que o susto. Eu lhe expliquei. Ele me disse que nem todo gay precisa falar fino ou se vestir de mulher, isso não o torna mais ou menos gay. Disse que assim como homens que dão em cima de toda mulher que passa existem gays assim também, mas existem aqueles que, assim como ele, não aparentam ser gays, pois são diferentes dos estereótipos impostos pela sociedade. Ele me disse que seu namorado tinha um pouco desses estereótipos, mas que isso nunca o incomodou, que isso até o atraia. Eu fiquei abismado com tudo que ouvi, falei pra ele minhas opiniões e quando achei que ia levar um soco na cara ele apenas me disse que é normal, que eu não tinha conhecido gays legais. Gay não tem só amigo gay. A amizade se constrói com respeito, cabe aos dois lados dizer seus limites. Relaxei um pouco e me desculpei. Ele me disse que se algum cara der em cima de mim novamente é só dizer que não curte, se insistir basta empurrar, não precisa se estressar, ainda me disse que não será fácil mudar essa forma de pensar, mas que eu deveria andar mais com ele pra ver que o mundo gay não é exatamente o que parece ser. Hoje em dia eu estou mais relaxado, não tenho mais o velho preconceito. Conheci o namorado dele, confesso que no início fiquei um pouco receoso, mas percebi que os dois se amavam de verdade, que não existia chance de ele dar em cima de mim, agora somos bons amigos, saímos pra beber juntos, durmo na casa deles, eles dormem na minha e inclusive me arranjaram uma ótima namorada. Percebo que não existe lógica em ter preconceito, antes de ser gay ou qualquer outra coisa são seres humanos, eles sofrem, se divertem, cometem erros e amam. Todos devemos respeitar os outros se esperamos ser respeitados.


Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.