quinta-feira, 28 de maio de 2015

Em busca de um futuro






Todos os dias da minha vida eram um martírio, principalmente depois do dia que fui expulsa de casa por querer lutar por meu sonho e agora tenho que lutar pra sobreviver. Não é uma vida fácil, muito menos boa. Meus pais nunca me entenderam quando dizia que não era igual aos outros. Morar de aluguel é terrível, mas infelizmente é tudo que posso ter atualmente. Ser garota de programa é tudo o que restou pra mim. Quando fui expulsa era muito nova ainda e não sabia fazer nada. Tinha apenas 14 anos, mas meus pais disseram não aguentar mais me ver daquela forma. Sempre esperei por um cavalo branco e um príncipe em sua garupa. Mas nas ruas as quais eu pertencia, meu príncipe só poderia aparecer em um carro branco oferecendo-me duas notas de R$20 para sair com ele. Desde então eu tentei juntar dinheiro para o meu sonho, mesmo que tivesse que levar essa vida odiosa. Ser garota de programa não é coisa fácil, principalmente se você nasce homem. Sim, eu nasci no corpo errado, sou uma mulher presa num corpo masculino, mas um dia serei uma mulher completa e encontrarei meu príncipe, mesmo que ele não tenha um cavalo branco. Alguns dos caras que eu encontrei nessa vida foram legais, outros nem tanto, mas todos contribuíram pra eu aprender um pouco mais sobre o ser humano. Já tive clientes que me trataram como uma verdadeira mulher, com muito carinho e prazer. Também tive alguns que me espancaram ao perceber que não era uma mulher completa, que tinha algo que eles não esperavam. Aprendi que há pessoas que não ligam se você é diferente, mas também tem aqueles que irão te odiar pelo mesmo motivo. Hoje estou um pouco mais feliz, consegui fazer minha cirurgia e posso ser uma mulher completa, mas infelizmente não sai da vida de garota de programa, mas isso um dia passará. Estou estudando, finalmente serei alguém na vida. Poderei ser aceita. Serei completa.


Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Conhecendo








Eu sempre odiei gays, sempre achei muito nojento o fato de eles ficarem com outros caras. Como eles têm coragem de dar o cu daquela forma? É tão humilhante, tão degradante. Sempre que via dois caras se beijando no meio da rua tinha vontade de socar a cara deles, fazê-los virar homens. Já bati em alguns deles, odiava quando vinham dar em cima de mim. Ver aqueles seres abomináveis com roupa curta se insinuando para mim era enlouquecedor. Certo dia encontrei-me com um amigo que não via há anos, perguntei como ele estava, se havia casado, se tinha filhos. Ele conversou comigo como se nunca tivéssemos nos afastado, disse que tinha casado, mas não tinha filhos, não podia tê-los, mas que queria adotar. Fiquei super mal ao saber que ele não poderia ser pai de forma natural, resolvi perguntar o porquê, se a mulher dele ou se ele era estéreo. Ele me disse que não era. Disse a ele que era uma pena que a mulher dele era então e ele me disse que não era casado com uma mulher, ele não poderia ser pai de forma natural por que era casado com outro homem. Eu quase caí da cadeira. Como ele podia ser gay? Ele era forte, alto, o tipo de cara que conquistaria qualquer mulher, não falava fino e não tinha frescuras. Perguntei se era alguma piada ou pegadinha. Ele me disse que não, que realmente é gay. Eu quis espanca-lo naquele mesmo momento, mas não poderia, tinha muita gente por perto, estávamos em um pub lotado. Ele percebeu minha impaciência ao saber. Eu queria ir embora, ele me segurou pelo braço e pediu pra ficar um pouco mais. Eu não queria ficar perto de um gay, achava que ele queria dar em cima de mim, afinal, pra que ele tinha me chamado lá depois de tantos anos? Além de que eu sempre pensei que todo gay fosse promíscuo, ele só queria transar comigo. Eu disse que não curtia aquilo e que iria embora. Ele insistiu, disse que não queria nada comigo, afinal era casado. Mesmo com receio resolvi ficar, pela nossa longa amizade. Ele pediu desculpas se disse aquilo de forma tão direta e perguntou por que o susto. Eu lhe expliquei. Ele me disse que nem todo gay precisa falar fino ou se vestir de mulher, isso não o torna mais ou menos gay. Disse que assim como homens que dão em cima de toda mulher que passa existem gays assim também, mas existem aqueles que, assim como ele, não aparentam ser gays, pois são diferentes dos estereótipos impostos pela sociedade. Ele me disse que seu namorado tinha um pouco desses estereótipos, mas que isso nunca o incomodou, que isso até o atraia. Eu fiquei abismado com tudo que ouvi, falei pra ele minhas opiniões e quando achei que ia levar um soco na cara ele apenas me disse que é normal, que eu não tinha conhecido gays legais. Gay não tem só amigo gay. A amizade se constrói com respeito, cabe aos dois lados dizer seus limites. Relaxei um pouco e me desculpei. Ele me disse que se algum cara der em cima de mim novamente é só dizer que não curte, se insistir basta empurrar, não precisa se estressar, ainda me disse que não será fácil mudar essa forma de pensar, mas que eu deveria andar mais com ele pra ver que o mundo gay não é exatamente o que parece ser. Hoje em dia eu estou mais relaxado, não tenho mais o velho preconceito. Conheci o namorado dele, confesso que no início fiquei um pouco receoso, mas percebi que os dois se amavam de verdade, que não existia chance de ele dar em cima de mim, agora somos bons amigos, saímos pra beber juntos, durmo na casa deles, eles dormem na minha e inclusive me arranjaram uma ótima namorada. Percebo que não existe lógica em ter preconceito, antes de ser gay ou qualquer outra coisa são seres humanos, eles sofrem, se divertem, cometem erros e amam. Todos devemos respeitar os outros se esperamos ser respeitados.


Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.
 

Triste fim





Se você está lendo essa carta provavelmente já estarei morto. Queria dizer adeus a alguém, mas não tenho ninguém que queira me despedir. Mas para que saibam o motivo de minha morte eu explicarei. Eu me chamo Lauro e tenho 15 anos. Até o ano passado minha vida era normal, mas eu acabei me apaixonando. Seria besteira se apaixonar, se eu não fosse um garoto gostando de outro garoto (pelo menos foi isso que me fizeram pensar). O Maurício era o menino mais bonito da sala. Ele tem a mesma idade que eu e sempre me tratou bem, até mesmo quando os outros me tratavam mal. No começo eu achava que era apenas admiração, mas aos poucos eu fui percebendo que era mais que isso, eu realmente estava apaixonado. O dia em que percebi isso foi quando ele me defendeu dos outros garotos da sala que queriam me bater. Os garotos sempre implicavam comigo, desde que eu tinha uns 12 anos. Eles viviam me xingando, me chamando de viadinho, de bixinha e outras coisas que me deixavam péssimo. Minha família sempre dizia pra eu arranjar uma namorada e tudo isso acabaria, mas eu não tinha vontade de namorar com ninguém até então. Maurício foi a primeira pessoa que gostei. Comecei a andar mais com ele. Íamos ao parque, à praia e ao cinema juntos. Com o passar dos dias me sentia cada vez mais próximo dele. Infelizmente não durou muito e até hoje não sei se ele também gostava de mim. Mês passado o carro da família dele sofreu um acidente e todos morreram. Eu chorei muito quando fiquei sabendo. Eu estava sozinho novamente. Os garotos voltaram a implicar comigo e dessa vez era pior, queriam descontar o tempo que perderam quando o Maurício me protegia. Comecei a faltar às aulas e meus pais começaram a me questionar. Eles sempre perceberam que eu era diferente dos outros garotos. Não tinha namorada e nem vontade de ter uma, o meu único amigo era o Maurício, fora que sempre tive “jeitinho”. Depois quase um mês faltando aula meu pai me mandou pra escola, furioso. Eu disse que não queria ir, que estava com medo de apanhar dos outros garotos. Ele me dizia que eu tinha que ser homem e aprender a me defender. Voltei à escola, consegui ignorar mais os comentários dos outros garotos, porém me tranquei em um mundo só meu e comecei a escrever. A maioria dos meus textos eram direcionados ao Maurício, o primeiro e único amor que tive. Meus pais acabaram descobrindo meus textos e me descobrindo. Eu não sabia o porquê de ser tão errado ser gay. Eu não escolhi ser, apenas era. Eu não tinha “jeitinho” porque gostava, eu simplesmente tinha. A única coisa que queria é amar e ser amado, mas o que ganhei foi uma boa surra do meu pai. Ele me disse que eu era uma desgraça pra família, disse que sempre soube, mas não queria acreditar, achava que era apenas impressão. Ele me expulsou de casa. Um adolescente de 15 anos que não sabia nem o que queria fazer da vida. Bem, não sabia o que fazer, então cá estou eu, em cima de um prédio escrevendo esse texto de adeus. Espero encontrar meu amado Maurício do outro lado, num lugar onde eu possa ser feliz.


 


Esse texto foi um desafio feito a mim por Cledson Augusto