terça-feira, 26 de maio de 2015

Conhecendo








Eu sempre odiei gays, sempre achei muito nojento o fato de eles ficarem com outros caras. Como eles têm coragem de dar o cu daquela forma? É tão humilhante, tão degradante. Sempre que via dois caras se beijando no meio da rua tinha vontade de socar a cara deles, fazê-los virar homens. Já bati em alguns deles, odiava quando vinham dar em cima de mim. Ver aqueles seres abomináveis com roupa curta se insinuando para mim era enlouquecedor. Certo dia encontrei-me com um amigo que não via há anos, perguntei como ele estava, se havia casado, se tinha filhos. Ele conversou comigo como se nunca tivéssemos nos afastado, disse que tinha casado, mas não tinha filhos, não podia tê-los, mas que queria adotar. Fiquei super mal ao saber que ele não poderia ser pai de forma natural, resolvi perguntar o porquê, se a mulher dele ou se ele era estéreo. Ele me disse que não era. Disse a ele que era uma pena que a mulher dele era então e ele me disse que não era casado com uma mulher, ele não poderia ser pai de forma natural por que era casado com outro homem. Eu quase caí da cadeira. Como ele podia ser gay? Ele era forte, alto, o tipo de cara que conquistaria qualquer mulher, não falava fino e não tinha frescuras. Perguntei se era alguma piada ou pegadinha. Ele me disse que não, que realmente é gay. Eu quis espanca-lo naquele mesmo momento, mas não poderia, tinha muita gente por perto, estávamos em um pub lotado. Ele percebeu minha impaciência ao saber. Eu queria ir embora, ele me segurou pelo braço e pediu pra ficar um pouco mais. Eu não queria ficar perto de um gay, achava que ele queria dar em cima de mim, afinal, pra que ele tinha me chamado lá depois de tantos anos? Além de que eu sempre pensei que todo gay fosse promíscuo, ele só queria transar comigo. Eu disse que não curtia aquilo e que iria embora. Ele insistiu, disse que não queria nada comigo, afinal era casado. Mesmo com receio resolvi ficar, pela nossa longa amizade. Ele pediu desculpas se disse aquilo de forma tão direta e perguntou por que o susto. Eu lhe expliquei. Ele me disse que nem todo gay precisa falar fino ou se vestir de mulher, isso não o torna mais ou menos gay. Disse que assim como homens que dão em cima de toda mulher que passa existem gays assim também, mas existem aqueles que, assim como ele, não aparentam ser gays, pois são diferentes dos estereótipos impostos pela sociedade. Ele me disse que seu namorado tinha um pouco desses estereótipos, mas que isso nunca o incomodou, que isso até o atraia. Eu fiquei abismado com tudo que ouvi, falei pra ele minhas opiniões e quando achei que ia levar um soco na cara ele apenas me disse que é normal, que eu não tinha conhecido gays legais. Gay não tem só amigo gay. A amizade se constrói com respeito, cabe aos dois lados dizer seus limites. Relaxei um pouco e me desculpei. Ele me disse que se algum cara der em cima de mim novamente é só dizer que não curte, se insistir basta empurrar, não precisa se estressar, ainda me disse que não será fácil mudar essa forma de pensar, mas que eu deveria andar mais com ele pra ver que o mundo gay não é exatamente o que parece ser. Hoje em dia eu estou mais relaxado, não tenho mais o velho preconceito. Conheci o namorado dele, confesso que no início fiquei um pouco receoso, mas percebi que os dois se amavam de verdade, que não existia chance de ele dar em cima de mim, agora somos bons amigos, saímos pra beber juntos, durmo na casa deles, eles dormem na minha e inclusive me arranjaram uma ótima namorada. Percebo que não existe lógica em ter preconceito, antes de ser gay ou qualquer outra coisa são seres humanos, eles sofrem, se divertem, cometem erros e amam. Todos devemos respeitar os outros se esperamos ser respeitados.


Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior Bueno.
 

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