Eu sempre odiei gays, sempre achei muito nojento o
fato de eles ficarem com outros caras. Como eles têm coragem de dar o cu
daquela forma? É tão humilhante, tão degradante. Sempre que via dois caras se
beijando no meio da rua tinha vontade de socar a cara deles, fazê-los virar
homens. Já bati em alguns deles, odiava quando vinham dar em cima de mim. Ver
aqueles seres abomináveis com roupa curta se insinuando para mim era
enlouquecedor. Certo dia encontrei-me com um amigo que não via há anos,
perguntei como ele estava, se havia casado, se tinha filhos. Ele conversou
comigo como se nunca tivéssemos nos afastado, disse que tinha casado, mas não
tinha filhos, não podia tê-los, mas que queria adotar. Fiquei super mal ao
saber que ele não poderia ser pai de forma natural, resolvi perguntar o porquê,
se a mulher dele ou se ele era estéreo. Ele me disse que não era. Disse a ele
que era uma pena que a mulher dele era então e ele me disse que não era casado
com uma mulher, ele não poderia ser pai de forma natural por que era casado com
outro homem. Eu quase caí da cadeira. Como ele podia ser gay? Ele era forte,
alto, o tipo de cara que conquistaria qualquer mulher, não falava fino e não
tinha frescuras. Perguntei se era alguma piada ou pegadinha. Ele me disse que
não, que realmente é gay. Eu quis espanca-lo naquele mesmo momento, mas não
poderia, tinha muita gente por perto, estávamos em um pub lotado. Ele percebeu
minha impaciência ao saber. Eu queria ir embora, ele me segurou pelo braço e
pediu pra ficar um pouco mais. Eu não queria ficar perto de um gay, achava que
ele queria dar em cima de mim, afinal, pra que ele tinha me chamado lá depois
de tantos anos? Além de que eu sempre pensei que todo gay fosse promíscuo, ele
só queria transar comigo. Eu disse que não curtia aquilo e que iria embora. Ele
insistiu, disse que não queria nada comigo, afinal era casado. Mesmo com receio
resolvi ficar, pela nossa longa amizade. Ele pediu desculpas se disse aquilo de
forma tão direta e perguntou por que o susto. Eu lhe expliquei. Ele me disse
que nem todo gay precisa falar fino ou se vestir de mulher, isso não o torna
mais ou menos gay. Disse que assim como homens que dão em cima de toda mulher
que passa existem gays assim também, mas existem aqueles que, assim como ele,
não aparentam ser gays, pois são diferentes dos estereótipos impostos pela
sociedade. Ele me disse que seu namorado tinha um pouco desses estereótipos,
mas que isso nunca o incomodou, que isso até o atraia. Eu fiquei abismado com
tudo que ouvi, falei pra ele minhas opiniões e quando achei que ia levar um
soco na cara ele apenas me disse que é normal, que eu não tinha conhecido gays
legais. Gay não tem só amigo gay. A amizade se constrói com respeito, cabe aos
dois lados dizer seus limites. Relaxei um pouco e me desculpei. Ele me disse
que se algum cara der em cima de mim novamente é só dizer que não curte, se
insistir basta empurrar, não precisa se estressar, ainda me disse que não será
fácil mudar essa forma de pensar, mas que eu deveria andar mais com ele pra ver
que o mundo gay não é exatamente o que parece ser. Hoje em dia eu estou mais
relaxado, não tenho mais o velho preconceito. Conheci o namorado dele, confesso
que no início fiquei um pouco receoso, mas percebi que os dois se amavam de
verdade, que não existia chance de ele dar em cima de mim, agora somos bons
amigos, saímos pra beber juntos, durmo na casa deles, eles dormem na minha e
inclusive me arranjaram uma ótima namorada. Percebo que não existe lógica em
ter preconceito, antes de ser gay ou qualquer outra coisa são seres humanos,
eles sofrem, se divertem, cometem erros e amam. Todos devemos respeitar os
outros se esperamos ser respeitados.
Esse texto foi um desafio feito a mim por Júnior
Bueno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário