Se
você está lendo essa carta provavelmente já estarei morto. Queria dizer adeus a
alguém, mas não tenho ninguém que queira me despedir. Mas para que saibam o
motivo de minha morte eu explicarei. Eu me chamo Lauro e tenho 15 anos. Até o ano
passado minha vida era normal, mas eu acabei me apaixonando. Seria besteira se
apaixonar, se eu não fosse um garoto gostando de outro garoto (pelo menos foi
isso que me fizeram pensar). O Maurício era o menino mais bonito da sala. Ele
tem a mesma idade que eu e sempre me tratou bem, até mesmo quando os outros me
tratavam mal. No começo eu achava que era apenas admiração, mas aos poucos eu
fui percebendo que era mais que isso, eu realmente estava apaixonado. O dia em
que percebi isso foi quando ele me defendeu dos outros garotos da sala que
queriam me bater. Os garotos sempre implicavam comigo, desde que eu tinha uns
12 anos. Eles viviam me xingando, me chamando de viadinho, de bixinha e outras
coisas que me deixavam péssimo. Minha família sempre dizia pra eu arranjar uma
namorada e tudo isso acabaria, mas eu não tinha vontade de namorar com ninguém
até então. Maurício foi a primeira pessoa que gostei. Comecei a andar mais com
ele. Íamos ao parque, à praia e ao cinema juntos. Com o passar dos dias me
sentia cada vez mais próximo dele. Infelizmente não durou muito e até hoje não
sei se ele também gostava de mim. Mês passado o carro da família dele sofreu um
acidente e todos morreram. Eu chorei muito quando fiquei sabendo. Eu estava
sozinho novamente. Os garotos voltaram a implicar comigo e dessa vez era pior,
queriam descontar o tempo que perderam quando o Maurício me protegia. Comecei a
faltar às aulas e meus pais começaram a me questionar. Eles sempre perceberam
que eu era diferente dos outros garotos. Não tinha namorada e nem vontade de
ter uma, o meu único amigo era o Maurício, fora que sempre tive “jeitinho”. Depois
quase um mês faltando aula meu pai me mandou pra escola, furioso. Eu disse que
não queria ir, que estava com medo de apanhar dos outros garotos. Ele me dizia
que eu tinha que ser homem e aprender a me defender. Voltei à escola, consegui
ignorar mais os comentários dos outros garotos, porém me tranquei em um mundo
só meu e comecei a escrever. A maioria dos meus textos eram direcionados ao
Maurício, o primeiro e único amor que tive. Meus pais acabaram descobrindo meus
textos e me descobrindo. Eu não sabia o porquê de ser tão errado ser gay. Eu não
escolhi ser, apenas era. Eu não tinha “jeitinho” porque gostava, eu simplesmente
tinha. A única coisa que queria é amar e ser amado, mas o que ganhei foi uma
boa surra do meu pai. Ele me disse que eu era uma desgraça pra família, disse
que sempre soube, mas não queria acreditar, achava que era apenas impressão.
Ele me expulsou de casa. Um adolescente de 15 anos que não sabia nem o que
queria fazer da vida. Bem, não sabia o que fazer, então cá estou eu, em cima de
um prédio escrevendo esse texto de adeus. Espero encontrar meu amado Maurício
do outro lado, num lugar onde eu possa ser feliz.
Esse
texto foi um desafio feito a mim por Cledson Augusto
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