terça-feira, 26 de maio de 2015

Triste fim





Se você está lendo essa carta provavelmente já estarei morto. Queria dizer adeus a alguém, mas não tenho ninguém que queira me despedir. Mas para que saibam o motivo de minha morte eu explicarei. Eu me chamo Lauro e tenho 15 anos. Até o ano passado minha vida era normal, mas eu acabei me apaixonando. Seria besteira se apaixonar, se eu não fosse um garoto gostando de outro garoto (pelo menos foi isso que me fizeram pensar). O Maurício era o menino mais bonito da sala. Ele tem a mesma idade que eu e sempre me tratou bem, até mesmo quando os outros me tratavam mal. No começo eu achava que era apenas admiração, mas aos poucos eu fui percebendo que era mais que isso, eu realmente estava apaixonado. O dia em que percebi isso foi quando ele me defendeu dos outros garotos da sala que queriam me bater. Os garotos sempre implicavam comigo, desde que eu tinha uns 12 anos. Eles viviam me xingando, me chamando de viadinho, de bixinha e outras coisas que me deixavam péssimo. Minha família sempre dizia pra eu arranjar uma namorada e tudo isso acabaria, mas eu não tinha vontade de namorar com ninguém até então. Maurício foi a primeira pessoa que gostei. Comecei a andar mais com ele. Íamos ao parque, à praia e ao cinema juntos. Com o passar dos dias me sentia cada vez mais próximo dele. Infelizmente não durou muito e até hoje não sei se ele também gostava de mim. Mês passado o carro da família dele sofreu um acidente e todos morreram. Eu chorei muito quando fiquei sabendo. Eu estava sozinho novamente. Os garotos voltaram a implicar comigo e dessa vez era pior, queriam descontar o tempo que perderam quando o Maurício me protegia. Comecei a faltar às aulas e meus pais começaram a me questionar. Eles sempre perceberam que eu era diferente dos outros garotos. Não tinha namorada e nem vontade de ter uma, o meu único amigo era o Maurício, fora que sempre tive “jeitinho”. Depois quase um mês faltando aula meu pai me mandou pra escola, furioso. Eu disse que não queria ir, que estava com medo de apanhar dos outros garotos. Ele me dizia que eu tinha que ser homem e aprender a me defender. Voltei à escola, consegui ignorar mais os comentários dos outros garotos, porém me tranquei em um mundo só meu e comecei a escrever. A maioria dos meus textos eram direcionados ao Maurício, o primeiro e único amor que tive. Meus pais acabaram descobrindo meus textos e me descobrindo. Eu não sabia o porquê de ser tão errado ser gay. Eu não escolhi ser, apenas era. Eu não tinha “jeitinho” porque gostava, eu simplesmente tinha. A única coisa que queria é amar e ser amado, mas o que ganhei foi uma boa surra do meu pai. Ele me disse que eu era uma desgraça pra família, disse que sempre soube, mas não queria acreditar, achava que era apenas impressão. Ele me expulsou de casa. Um adolescente de 15 anos que não sabia nem o que queria fazer da vida. Bem, não sabia o que fazer, então cá estou eu, em cima de um prédio escrevendo esse texto de adeus. Espero encontrar meu amado Maurício do outro lado, num lugar onde eu possa ser feliz.


 


Esse texto foi um desafio feito a mim por Cledson Augusto

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