Aqui
estou eu novamente, sentado no canto escuro da sala, chorando por algo que nem
chegou a ser meu: você. Eu sempre estive te observando, seguindo os seus
passos. Quando nos conhecemos, na terceira série, você era o garoto popular,
aquele que todas as garotas ficavam dando bola e os garotos admiravam, já eu
era apenas mais um nerd na sala como tantos outros. Na quarta série nós nos
separamos, ficamos em turmas diferentes, mas eu sempre achava um motivo pra
poder ir à sua sala e vê-lo mesmo que por um instante. Mais um ano se passou e
continuamos em salas diferentes, mas eu já tinha me acostumado à rotina de ir à
sua sala e agora que estávamos na quinta série era mais fácil, afinal tínhamos
vários professores diferentes e podia ir falar com todos eles durante os
intervalos entre as aulas. Na sexta série voltamos a estudar juntos, foi como
se o vento estivesse soprando a meu favor, finalmente estaríamos juntos, mesmo
que apenas nas aulas. Na sétima série foi o pior ano para mim, você foi morar
em outro bairro e mudou de escola, quase que desapareço de tanto que emagreci,
meus pais não entendiam o que estava acontecendo e eu nunca contava. Durante a
oitava série e o ensino médio estudamos separados, mas eu nunca parei de pensar
em você, nem mesmo por um dia. Após terminar o segundo grau resolvi estudar em
outra cidade para tentar te esquecer, mas parece que o destino nos queria
juntos. Quando olhei a lista de aprovados seu nome estava nela, quase infarto
de tanta alegria, iríamos estudar juntos depois de tantos anos. Logo no
primeiro dia notei que sentou na frente, nunca sentava na frente, era popular,
sempre sentava nas carteiras do fundo. Fiquei quieto e sentei-me do outro lado
da sala. No dia seguinte quando cheguei notei que não havia chegado ainda e
coloquei minhas coisas no mesmo lugar do dia anterior antes de ir ao banheiro,
quando voltei vi você sentado na cadeira ao lado. Quase grito de alegria.
Depois de um mês sentando perto um do outro você veio falar comigo, não tinha
ido muito bem na primeira prova e queria ajuda para estudar, me disse que só eu
poderia ajuda-lo, fiquei estático. Realmente tinha me saído muito bem na prova,
mas na sala haviam outros que sabiam mais que eu. Marcamos de estudar na sua
casa já que eu morava em uma república. Quando começamos a estudar percebi que
sabia mais do que dizia saber, mas continuei te ajudando. Ao fim do primeiro
semestre um colega de turma me entregou uma carta. Era sua. Nela você dizia que
sempre me observou, mas sempre achou que eu nunca iria querer ficar com você,
afinal, eu era muito inteligente e ele não parecia ser muito, mas mesmo assim
se esforçou para melhorar. Disse que achava estranho eu ir tanto na sua sala,
mas achava que eu estava de olho na Carol que tinha estudado com a gente. Você
achou que por você ser homem eu nunca repararia em você. O que você não sabe é
que eu sempre te amei e achei que você quem não olharia para mim. Fui ao seu
encontro para poder finalmente me declarar, mas cheguei tarde. Quando te
encontrei estava muito ferido e havia uma mensagem num papel ao seu lado.
Alguém corria na direção oposta à qual eu chegava, era o garoto que me entregou
a carta. Na carta dizia que os gays têm que morrer. Quase morro ao te ver
naquele estado. Chamei uma ambulância, mas acho que era tarde demais, você
morreu sem ao menos saber que o amava. Agora estou aqui, no canto escuro do meu
quarto me lamentando por todos esses anos perdidos. Foram nove anos para poder
me declarar, tantas oportunidades perdidas. Infelizmente não pude dizer que te
amava. Não pude viver ao seu lado.
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