sexta-feira, 5 de junho de 2015

Adeus meu amor





Aqui estou eu novamente, sentado no canto escuro da sala, chorando por algo que nem chegou a ser meu: você. Eu sempre estive te observando, seguindo os seus passos. Quando nos conhecemos, na terceira série, você era o garoto popular, aquele que todas as garotas ficavam dando bola e os garotos admiravam, já eu era apenas mais um nerd na sala como tantos outros. Na quarta série nós nos separamos, ficamos em turmas diferentes, mas eu sempre achava um motivo pra poder ir à sua sala e vê-lo mesmo que por um instante. Mais um ano se passou e continuamos em salas diferentes, mas eu já tinha me acostumado à rotina de ir à sua sala e agora que estávamos na quinta série era mais fácil, afinal tínhamos vários professores diferentes e podia ir falar com todos eles durante os intervalos entre as aulas. Na sexta série voltamos a estudar juntos, foi como se o vento estivesse soprando a meu favor, finalmente estaríamos juntos, mesmo que apenas nas aulas. Na sétima série foi o pior ano para mim, você foi morar em outro bairro e mudou de escola, quase que desapareço de tanto que emagreci, meus pais não entendiam o que estava acontecendo e eu nunca contava. Durante a oitava série e o ensino médio estudamos separados, mas eu nunca parei de pensar em você, nem mesmo por um dia. Após terminar o segundo grau resolvi estudar em outra cidade para tentar te esquecer, mas parece que o destino nos queria juntos. Quando olhei a lista de aprovados seu nome estava nela, quase infarto de tanta alegria, iríamos estudar juntos depois de tantos anos. Logo no primeiro dia notei que sentou na frente, nunca sentava na frente, era popular, sempre sentava nas carteiras do fundo. Fiquei quieto e sentei-me do outro lado da sala. No dia seguinte quando cheguei notei que não havia chegado ainda e coloquei minhas coisas no mesmo lugar do dia anterior antes de ir ao banheiro, quando voltei vi você sentado na cadeira ao lado. Quase grito de alegria. Depois de um mês sentando perto um do outro você veio falar comigo, não tinha ido muito bem na primeira prova e queria ajuda para estudar, me disse que só eu poderia ajuda-lo, fiquei estático. Realmente tinha me saído muito bem na prova, mas na sala haviam outros que sabiam mais que eu. Marcamos de estudar na sua casa já que eu morava em uma república. Quando começamos a estudar percebi que sabia mais do que dizia saber, mas continuei te ajudando. Ao fim do primeiro semestre um colega de turma me entregou uma carta. Era sua. Nela você dizia que sempre me observou, mas sempre achou que eu nunca iria querer ficar com você, afinal, eu era muito inteligente e ele não parecia ser muito, mas mesmo assim se esforçou para melhorar. Disse que achava estranho eu ir tanto na sua sala, mas achava que eu estava de olho na Carol que tinha estudado com a gente. Você achou que por você ser homem eu nunca repararia em você. O que você não sabe é que eu sempre te amei e achei que você quem não olharia para mim. Fui ao seu encontro para poder finalmente me declarar, mas cheguei tarde. Quando te encontrei estava muito ferido e havia uma mensagem num papel ao seu lado. Alguém corria na direção oposta à qual eu chegava, era o garoto que me entregou a carta. Na carta dizia que os gays têm que morrer. Quase morro ao te ver naquele estado. Chamei uma ambulância, mas acho que era tarde demais, você morreu sem ao menos saber que o amava. Agora estou aqui, no canto escuro do meu quarto me lamentando por todos esses anos perdidos. Foram nove anos para poder me declarar, tantas oportunidades perdidas. Infelizmente não pude dizer que te amava. Não pude viver ao seu lado.

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